segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

Que fazer? - IEL

Direto do Blog do Juca 24/02/2013.

No “Estado de S.Paulo” de hoje:

UGO GIORGETTI

Tristeza. É o sentimento que se acumula à medida em que chegam as informações sobre o episódio da Bolívia. Tristeza por uma sociedade que enlouquece. Há muito tempo se pressentia isso, não é de hoje que, poetas sobretudo, vem avisando sobre a insanidade generalizada. “Vi as melhores mentes da minha geração, etc, etc.”

As melhores mentes e as piores agora se igualam na mesma loucura. Que eu saiba é a primeira vez que se mata num estádio para comemorar. É a primeira vez, que eu saiba, que se mata para celebrar um gol, que se mata por alegria, não por ódio. Alguém agarrou um objeto que já faz parte de sua vida normal, como um pente ou uma carteira, e comemorou. Esse objeto da morte era como sua corneta, ou seu tambor.

A morte já faz parte da coleção de pertences habituais, viaja conosco, vai a passeios, está sempre ali. E entra em ação. Sabemos que fere, que pode matar, mas isso é apenas uma advertência, escrita para não ser lida. Vira só um objeto. Para a coisa ficar mais absurda foi usado para matar um artefato concebido para salvar. Um objeto inventado para resgatar alguém perdido no mar que tem como sua última chance lançar no ar a luz salvadora.

Num filme, que está por aí, As Aventuras de Pi, há uma cena bastante elucidativa, de um menino, da idade do mesmo menino que foi morto no estádio, em pé, no seu minúsculo barco no meio do oceano, usando o sinalizador de forma desesperada na esperança de ser notado por um navio à distância. Ele lança o sinalizador, a luz sobe, sobe, e não se sabe onde vai dar. Avança sem rota definida pelo céu escuro e desaparece.

O sinalizador que atingiu o menino boliviano também saiu sem rota definida pelo estádio, e matou. O que foi pensado para salvar matou. Assim são as conquistas da técnica quando jogadas no meio da nossa loucura, que não sabe identificar nem entender corretamente o que tem nas mãos. Tudo vira arma.

E de absurdo em absurdo chego à seguinte questão: o que deve acontecer para que uma partida seja interrompida? Qual o limite de barbárie, qual a fronteira de humanidade, além da qual um jogo tem que parar? Certamente a morte absurda de um menino não é. Porque o jogo seguiu em frente. Os torcedores estavam perplexos e enfurecidos, mas nãos os dirigentes, não quem comanda os jogos.

São episódios de uma loucura que nos atinge a todos aqui neste país. No resto do mundo também, talvez. Mas o resto do mundo não me interessa, vivo aqui. E vejo com tristeza enorme certas mudanças. Sempre tivemos medo de jogar a Libertadores, de sermos recebidos a pedradas, de sermos agredidos por legiões de fanáticos em campos hostis e perigosos. Agora os perigosos somos nós. Agora nos temem como os novos bárbaros e nos temem até quando os visitamos.

Falava-se da Idade Média, sem razão, que era a idade das trevas. Não era. A idade das trevas está chegando agora.

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

1 semana 2 mortes relacionadas a esportes.

Pistorius e marginal "corinthiano", trataram de fazer o esporte ser um fato incomum entre duas tragédias.

O esporte não é nada disso.

O esporte é vida, deve sempre ser lembrado por isso.

As duas perdas não são comparáveis a nada que se possa alcançar no esporte, somente ao seu objetivo principal: a vida. E duas se foram tragicamente.

O alerta fica por conta da falta de acompanhamento psicológico dos atletas e da banalização da segurança em geral. Os atletas saem de situações de profunda depressão e problemas sociais para se tornarem astros, e não recebem o devido acompanhamento, pois que os cerca só quer dinheiro e não o bem da pessoa por trás do astro. Nada justifica dormir com uma arma a mão, seja ela para matar baratas... nada. E a segurança pífia dos estádios e locais de competição. Em competições internacionais não se pode supor que os visitantes sejam tão pacíficos quanto os donos da casa (sim, a Bolívia é muito mais pacifica e segura que o Brasil. Lá existe respeito, e se anda pelas ruas tranquilamente). Permitiram que um marginal brasileiro adentrasse o estádio é cometesse uma estupides. Para que fogos de artificio e sinalizadores em estádios e em casas noturnas? É para chamar mais a tenção? É carência?

Estas pessoas que se foram não voltarão... Isso deveria ser motivo para que nada disso se repetisse. Mas a lógica da humanidade prega que "um nunca cometerá o mesmo erro do próximo sabendo o que foi feito". Claro, corretíssimo... por isso que as guerras não são passíveis de contagem.

Paro por aqui. Pois o ódio que sinto da humanidade anda bem aflorado esta semana. Somos um câncer que nada de bom trás a este planeta e o pior: Nem os princípios básicos de auto-preservação e proteção do semelhante praticamos mais. Não somos mais uma espécie, somos uma doença.

domingo, 3 de fevereiro de 2013

Romário: Copa para inglês ver - IEL


Publicado na Folha de São Pualo do dia 2/2/13


Romário: Copa para inglês ver

NÃO
O sucesso de uma Copa do Mundo de futebol vai muito além do que se vê. Arenas lotadas e jogos televisionados para o mundo todo representam apenas 10% desse grande espetáculo, que une povos e faz o planeta vibrar em torno de uma paixão.
Para um país, sediar uma Copa é uma oportunidade rara --a última no Brasil ocorreu há mais de 60 anos-- de estimular a economia, alavancar o turismo, melhorar a formação das pessoas, expandir e aperfeiçoar a infraestrutura, elevando-a a um novo patamar de acessibilidade.
Analisando esse conjunto de ações, é fácil chegar a uma conclusão: não, o Brasil não aproveitará todo o potencial da Copa.
Seria ingênuo imaginar que uma Copa resolveria todos os problemas de uma nação, mas também não é confortável constatar que o evento poderá aprofundar alguns deles. Assistimos na televisão a um comercial de cerveja que transforma esse sentimento de frustração do brasileiro em pessimismo. Mas não é pessimismo gratuito, é puro realismo de quem vive o dia a dia das grandes cidades. Sim, imaginem, durante a Copa, todos os nossos problemas estruturais agravados pelo fluxo de milhões de pessoas!
O pessimismo do brasileiro é calcado em fatos: a incapacidade dos gestores de planejar atrasou inúmeras obras e, por tabela, encareceu em alguns bilhões o custo do Mundial --R$ 3,5 bilhões, para ser mais preciso--, segundo o último levantamento do Tribunal de Contas da União (TCU). Para se ter uma ideia do que se poderia fazer com esses bilhões excedentes, vamos fazer uma projeção.
Em 2010, o então presidente Lula anunciou a construção de 141 novas escolas federais de educação profissional ao custo total de R$ 1,1 bilhão. Os R$ 3,5 bilhões acrescidos ao valor total da Copa dariam, portanto, para construir quase 500 novas escolas técnicas no Brasil.
O excesso de gastos, no entanto, não é o pior dos cenários. O tão falado legado social para a população parece ter ficado só no papel. Quase todas as obras de transporte estão atrasadas, a inauguração de algumas, inclusive, já foi remarcada para somente depois do Mundial e outras foram canceladas.
Salvador foi a primeira cidade-sede a cancelar uma obra de mobilidade. A construção de um corredor de ônibus Bus Rapid Transport (BRT) foi riscada da lista de obras para 2014. Em seguida, Brasília cancelou a construção do Veículo Leve sobre Trilhos (VLT).
Há ainda os problemas de pouca visibilidade, mas grande impacto social, como as remoções involuntárias. O tema foi destaque no jornal "The New York Times", em março passado. O diário informou que 170 mil pessoas devem ser despejadas até a Copa do Mundo e a Olimpíada, para dar lugar a intervenções urbanas para os eventos. O problema é que as indenizações estão bem abaixo do valor de mercado e, quando são oferecidas moradias, as casas ficam a até 60 km de distância do local de origem.
Vale lembrar, ainda, a naturalidade com que os projetos das arenas desrespeitam a lei que exige 4% dos assentos para deficientes físicos e pessoas com mobilidade reduzida. Nos casos em que os projetos preveem reserva de vagas, elas se limitam à margem de 1%, mínimo exigido pela Fifa. Como se as decisões da Fifa fossem mais importantes que a legislação do país.
Depois de ter rodado o mundo inteiro e participado, in loco, de tantos mundiais, posso afirmar, com convicção, que um país só é bom para os turistas se, antes, for bom para o seu próprio povo.
Hoje, não consigo presumir nenhum problema que inviabilize o evento, mas tenho certeza de que os brasileiros ficarão decepcionados ao ver perdida mais uma ótima oportunidade de tornar este país um lugar melhor para se viver.
ROMÁRIO FARIA, 47, ex-jogador da seleção, tetra campeão mundial, é deputado federal (PSB-RJ) e membro da Comissão de Turismo e Desporto da Câmara dos Deputados

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

O Fenômeno e o Falcão - Juca Kfouri - IEL

Para começar, um post do Blog do Juca Kfouri de 31/01/13.

O Fenômeno e o Falcão.



Que Ronaldo, embora aparentemente disposto a virar pauteiro, não entenda qual seja a função da imprensa é compreensível.

Ele prefere que não se publique que a Copa do Mundo, prometida como a Copa do capital privado, se transformou na Copa do dinheiro público, inclusive, e principalmente, na construção dos 12 estádios que a sediarão. Dos 12!

O Fenômeno quer também que não se noticie que boa parte do legado previsto em infra-estrutura e mobilidade urbana já foi cancelada.

Certamente deseja, ainda, que os relatórios do TCU permaneçam em sigilo.

Difícil mesmo é explicar por que o deputado Rui Falcão, presidente do PT, bate na mesma tecla, ao dizer que as denúncias da imprensa contra a classe política nos aproxima, como país, do nazismo.

Ele não pensava assim quando os jornais denunciavam outros partidos no poder e Lula dizia que havia 300 picaretas no Congresso Nacional.

Porque Falcão é também jornalista, e até dirigiu, entre 1977, em plena ditadura, e 1988, a redação da revista “Exame”, baluarte do capitalismo.

Que há muito a se discutir sobre o papel da imprensa no Brasil democratizado está mais que óbvio.

Mas, devagar com andor.

Porque se pimenta nos olhos dos outros é refresco, imprensa é oposição.

O resto é armazém de secos e molhados, como ensinou Millôr Fernandes.

Espaço para imprensa esportiva livre.

Olá,

A partir de hoje, além de meus textos, colocarei aqui também textos de outros autores, devidamente referenciados e lincados. Serão textos sobre esporte ou sobre assuntos que remetam ou afetem os esportes em geral. Mas o mais importante: serão textos livres, onde os autores denunciam e falam o que pensam sem se preocupar com censura dos meios de comunicação tradicionais.

Colocarei a sigla IEL, de Imprensa Esportiva Livre no final dos posts que não forem escritos de punho próprio.

Abrax.