Este ano tive a oportunidade de integrar a seleção brasileira de aquathlon e viajar para Budapeste para participar da Grand Final ITU. Além da fabulosa disputa que participei, pude assistir os demais amadores e os profissionais e aspirantes a profissionais (juniors e U23). Fiquei muito contente com o desempenho dos amadores, mas muito preocupado com o dos profissionais. Atualmente não temos nenhum atleta, nem mesmo o fabuloso Colucci, capaz de encarar a corrida dos irmãos Brownlee, do Gomez, do Justus, do Silva, do Kahlefeldt, da Snowsill, da Moffat, da Spring, da Norden, da Bennett, da Hewitt....Sabem por que citei tantos? Por que todos estes chegam na frente dos brasileiros com certeza, e isso significa que não haveria um top 5 em Olimpíada nos dias de hoje.
Qual o problema? De uma maneira geral o Brasil como um todo, mas vamos nos ater ao triathlon e ao que vem sendo feito por ele: A bela iniciativa de contratar o técnico português Sergio Santos e criar o projeto Rio Maior. Portugal possui, em Rio Maior, um centro de treinamento que está consolidando o país como uma futura potência no triathlon, com 2 atletas top 10 no ranking ITU masculino. Este projeto será ótimo para os atletas que forem selecionados e com certeza ajudará na preparação dos mesmos para as próximas Olimpíadas, mas o que o resto do triathlon do Brasil ganha com isso? Me parece que nada.
Todo o treinamento será feito em Portugal e acredito com baixa (ou nenhuma) presença de técnicos brasileiros. Vivemos um momento único de pré-Olimpíada, há interesse de investimento no esporte brasileiro. Esta seria a chance de construir ou reaproveitar algum local existente para transformação em um centro de alto rendimento permanente, um local de verdade, que não seja apenas a casa que existe em Vila Velha, ES.
E são tantos lugares propícios, mas tantos.... Vou citar o exemplo que está perto de mim e perto de todos os triathletas que disputam o Troféu Brasil: a USP. O CEPEUSP tem tudo que Rio Maior tem, e ainda tem um velódromo!!!! Só que está tudo fora de condição de uso. Um convênio com o governo federal poderia reformar o clube e em troca, instalar o centro de treinamento de triathlon aqui, em São Paulo. Dá pra fazer de tudo aqui, pedalar na rua, nadar na raia de remo, tudo que é preciso para treinar triathlon, só precisa de reforma e coordenação. E o legado fica para o país, aberto para o aprimoramento dos melhores atletas, sempre, e não apenas por alguns anos.
O exemplo a ser seguido é o do volêi brasileiro, que construiu uma base tão sólida que faz atletas campeões mundiais desde o juvenil...
Temos que pensar para frente, e perder o costume, tradicionalmente brasileiro, de arrumar tudo em cima da hora. Plantar e colher, parece tão óbvio.....
Fecho com uma frase do "nada fácil" Alistair Bronwlee em uma conversa pessoal em Budapeste: Perguntei como estava a motivação para 2011, ano de se classificar e se preparar para as Olimpíadas. A resposta foi: "É obvio que é a maior possível, estou sendo preparado para isto desde os 12 anos." E dois dias depois, ele correu os 10km para 29 minutos...cravados.
Brownlee, Moffat e Hewitt, na coletiva pré-prova em Budapeste.
Abrax.