segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Projeto Rio Maior: Por que não aqui no Brasil?

Este ano tive a oportunidade de integrar a seleção brasileira de aquathlon e viajar para Budapeste para participar da Grand Final ITU. Além da fabulosa disputa que participei, pude assistir os demais amadores e os profissionais e aspirantes a profissionais (juniors e U23). Fiquei muito contente com o desempenho dos amadores, mas muito preocupado com o dos profissionais. Atualmente não temos nenhum atleta, nem mesmo o fabuloso Colucci, capaz de encarar a corrida dos irmãos Brownlee, do Gomez, do Justus, do Silva, do Kahlefeldt, da Snowsill, da Moffat, da Spring, da Norden, da Bennett, da Hewitt....Sabem por que citei tantos? Por que todos estes chegam na frente dos brasileiros com certeza, e isso significa que não haveria um top 5 em Olimpíada nos dias de hoje. 

Qual o problema? De uma maneira geral o Brasil como um todo, mas vamos nos ater ao triathlon e ao que vem sendo feito por ele: A bela iniciativa de contratar o técnico português Sergio Santos e criar o projeto Rio Maior. Portugal possui, em Rio Maior, um centro de treinamento que está consolidando o país como uma futura potência no triathlon, com 2 atletas top 10 no ranking ITU masculino. Este projeto será ótimo para os atletas que forem selecionados e com certeza ajudará na preparação dos mesmos para as próximas Olimpíadas, mas o que o resto do triathlon do Brasil ganha com isso? Me parece que nada.

Todo o treinamento será feito em Portugal e acredito com baixa (ou nenhuma) presença de técnicos brasileiros. Vivemos um momento único de pré-Olimpíada, há interesse de investimento no esporte brasileiro. Esta seria a chance de construir ou reaproveitar algum local existente para transformação em um centro de alto rendimento permanente, um local de verdade, que não seja apenas a casa que existe em Vila Velha, ES.

E são tantos lugares propícios, mas tantos.... Vou citar o exemplo que está perto de mim e perto de todos os triathletas que disputam o Troféu Brasil: a USP. O CEPEUSP tem tudo que Rio Maior tem, e ainda tem um velódromo!!!! Só que está tudo fora de condição de uso. Um convênio com o governo federal poderia reformar o clube e em troca, instalar o centro de treinamento de triathlon aqui, em São Paulo. Dá pra fazer de tudo aqui, pedalar na rua, nadar na raia de remo, tudo que é preciso para treinar triathlon, só precisa de reforma e coordenação. E o legado fica para o país, aberto para o aprimoramento dos melhores atletas, sempre, e não apenas por alguns anos.


O exemplo a ser seguido é o do volêi brasileiro, que construiu uma base tão sólida que faz atletas campeões mundiais desde o juvenil... 

Temos que pensar para frente, e perder o costume, tradicionalmente brasileiro, de arrumar tudo em cima da hora. Plantar e colher, parece tão óbvio.....

Fecho com uma frase do "nada fácil" Alistair Bronwlee em uma conversa pessoal em Budapeste: Perguntei como estava a motivação para 2011, ano de se classificar e se preparar para as Olimpíadas. A resposta foi: "É obvio que é a maior possível, estou sendo preparado para isto desde os 12 anos." E dois dias depois, ele correu os 10km para 29 minutos...cravados.

Brownlee, Moffat e Hewitt, na coletiva pré-prova em Budapeste.

Abrax.

PS: Antes de mais nada, gostaria de deixar claro que este blog nunca será uma ferramenta de demérito ou de ataques, a nada nem a ninguém. Mas com certeza críticas serão feitas, e podem ter certeza que apenas as construtivas, que apresentem outra visão.

4 comentários:

  1. Fiou sensacional esse post, expôs muito bem a "solução" encontrada de tentar elevar o nível do Brasil no esporte mas que infelizmente já vem com data de vencimento, pois é apenas para alguns e será um trabalho sem foco nenhum em expansão. E depois disso como fica? Quem fica? Os anos passam para todo mundo e aí? A munição acaba e a "guerra" continua para todos, e mais uma vez sairemos perdendo, um passo para frente e dois para trás.
    Tipo, vamos fazer o que dá até 2016 e depois disso vamos ver o que faremos.
    Não quero desmerecer, de forma alguma, só critico o fato de não planejarem o crescimento absoluto ao invés de só o relativo.
    Grande abraço!!!!

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  2. muito boa a matéria... com certeza abriu mais os horizontes e forma opinião, mostrou uma faceta que ainda não tinha percebido. parabéns.

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  3. Muito bom tudo que disse, uniu, tudo bem claramente.
    Esses dias atrás estava ouvindo muito sobre "Rio maior" aqui na equipe, em São Carlos-SP, não que eu iria, mas colégas que treinam comigo foram e não estava entendendo muito bem isso tudo. Ficava na minha cabeça, Porque em Portugal, tudo bem do técnico ser português mais o projeto não é Brasileiro?

    Legal. obrigada por me fazer entender...

    Abraço.

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  4. Pois é pessoal, o post só sintetiza um sentimento de muitas pessoas. Hoje, na final do TBrasil estive conversando com o Luiz Gandolfo, técnico do Pinheiros, e a opinião é a mesma: não há comprometimento com longa duração e com a construção de uma cultura de treinamento desportivo aqui no Brasil. O mais triste é que este momento, de ciclo olímpico, é único, e nós já estamos perdendo tempo.

    Abraços.

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